Seguidores

terça-feira, 26 de fevereiro de 2019

GERAÇÃO RAIZ - GERAÇÃO FELIZ

Nossa jornada, começa aqui! É preciso falar desta “geração raiz”: cascuda, temperada com pimenta, forjada nos desafios, e independente, desde muito cedo.

É preciso celebrar a história,  deixando algum legado à geração futura, para que esta tenha referências e, quem sabe, se salve da alienação.  

Fomos uma geração nascida em meados dos anos 60 e início dos anos 70.

Crescemos em meio a um cenário político conturbado, confuso demais para recém-nascidos.

Era o final da ditadura, militarismo, censura e repressão (assim nos contavam).

Nada que nos tenha afetado, pois nossa história foi escrita dentro de uma blindagem criada por nossos pais. Só havia espaço para que nos desenvolvêssemos e formássemos o nosso caráter: amando a vida, a família, os bichos, a natureza, temendo a Deus, sendo honestos e irrepreensíveis, quanto possível fosse.

Enquanto nossas primeiras memórias eram formadas, víamos nossos pais sacrificarem seus dias em longas jornadas de trabalho, onde faziam o máximo para garantir que tivéssemos o mínimo de dignidade. Eles conseguiram, eu garanto!

Éramos uma geração livre, saudável, criativa, solidária, um tanto quanto ousada e rebelde para aqueles dias, confesso, mas, acima de tudo, uma geração convicta de que a vida era preciosa, linda demais, por isso, não poderia ser desperdiçada por nada. Enfim, era preciso fazer valer a pena, e nós fizemos. Ah ... nós fizemos sim!!!!

Tínhamos desafios diários. O perigo estava sempre por perto, mas nossa visão singela e nossa mente preparada nos fizeram prevalecer: fortes, intactos.

Foi assim, porque as dificuldades que passamos, formaram o nosso caráter. Vivemos algumas privações, sim, mas elas nunca nos fizeram fraquejar, nunca dominaram nosso coração. Sabíamos o que estava sendo trabalhado ali.

Tudo em nossa vida foi convertido em virtudes que nos fizeram bem para a fase adulta. Aprendemos a ser leves com nossas impossibilidades, ao menos, em alguns aspectos. 

Assim, dividíamos a mistura, muitas vezes só as verduras e legumes, ou apenas verduras, ou só os legumes; compartilhávamos as roupas, as cobertas, os sapatos, o doce de boteco, o “filão de pão”, o frango com macarrão e a limonada aos domingos, a santa Tubaína. Tudo nos era comum.

Nossa casa era muito simples. Lembro-me dos dias chuvosos, onde ficávamos espremidos nos poucos espaços sem goteiras em nossa sala/dormitório. O sentimento se resumia nas nossas gargalhadas, afinal, era um barato usar guarda-chuvas dentro de casa!!

Durante muito tempo, o chão foi de terra batida. Dava um trabalho imenso limpar, mas ela ficava impecável, sem um cisco, diziam as meninas. Será?!

A porta da nossa sala/dormitório tinha um “pega-ladrão”. Ele era a certeza de que nada chegaria até nós, claro, se nos lembrássemos de fechá-lo ao final de cada dia. Era uma trava simples, frágil, mas com superpoderes. Alguém duvida?

Foram anos tomando banho de bacia ou de água fria no cano do banheiro que, sequer possuía chuveiro. Sobrevivemos; criamos estofo e anticorpos. Que maravilha!!

Nossa incrível TV, (preto e branco, é lógico!) tinha um estabilizador de energia, e ainda, uma versão mais “moderna” com papel celofane para ficar colorida: ou tudo verde, ou tudo rosa. Nunca, mais de uma cor. 

Ganhamos músculos com ela por não sucumbirmos à sedução do famigerado controle remoto. Era na unha!!!

A beleza, mantínhamos com nossa doce mãe. Ela cortava nossos cabelos com um tal “cabecorte”; ele deixava nossos cabelos um verdadeiro esculacho. Esta realidade ainda permanece em algumas cabeças, mas, vamos evitar os conflitos .. rs.

E o nosso bairro, nossa rua? Meu Deus!!!

Nosso bairro era tranquilo, mas a rua, para nós, era uma selva, e viver nela demandava bravura. Éramos como leões, e cuidávamos muito um do outro. Sabíamos os caminhos do perigo e sempre buscávamos nos distanciar deles, apesar da natural curiosidade.

A rua nos ensinou a lutar pela vida utilizando a inteligência, às vezes os punhos, mas, sobretudo, a inteligência. Sobrevivemos. Alguns colegas, não tiveram a mesma sorte.

Dentro de casa tínhamos nossas tarefas, muitas tarefas; elas tinham vida própria, multiplicavam-se. 

Misericórdia!!!

Era preciso manter tudo funcionando perfeitamente na ausência dos nossos pais. E assim era. Tirávamos de letra ... ou não.  

Nada disso nos abalou. Tornamo-nos maduros precocemente, aprendemos, crescemos, sobrevivemos.

Somos o que somos hoje, pois vivemos nossos primeiros dias de consciência, possuídos por uma alegria contagiante e valores inegociáveis. Ouvimos o conselho de nossos pais, avós, primos e amigos mais responsáveis. Nada foi desperdiçado. Tudo contribuiu para que a nossa jornada fosse extremamente bem sucedida.

Não é mesmo, Simone, Regiane e Rafael, meus irmãos amados?!

Mas é preciso falar sobre a coxia, os bastidores. É preciso dar nomes, explicar estratégias, demonstrar compromisso com a verdade histórica, romper com o silêncio.


Afinal, que geração foi essa?

To be continued ... 

Nenhum comentário:

Postar um comentário