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segunda-feira, 18 de fevereiro de 2019

POR QUE UM MALTRAPILHO?

Talvez porque eu tive a sorte de conhecer algumas dessas figuras andarilhas, sem recursos, sem teto, sem vestimentas dignas, sem família; sem quase nada, mas ricos no poder de abrir entendimentos. 

Pois é! Foi uma sorte conhecer, ouvir e conviver com alguns deles por poucos meses em um projeto social que participei, chamado "Os Amigos da Maloca" em São Paulo, no submundo da Estação Bresser.

Gente que não possuía absolutamente NADA, ou quase nada: uns poucos panos, um papelão-cama, algumas cobertas velhas, sapatos rasgados, e quando muito, umas barraquinhas improvisadas com lonas de plástico. Era sempre este o cenário deles!

Nós estávamos ali para tentar ajudá-los. Éramos um grupo cheio de ideais!

Mas estes homens e mulheres "sem nada", tinham muito mais que supúnhamos. 

Ensinavam sempre à cada um nós, ainda que não tivessem ideia de que isto ocorria. 

Sempre havia perplexidade entre "Os Amigos", pelas histórias de vida chocantes, mas também pela transformação que muitos de nós experimentávamos à medida que convivíamos com eles.

Acho que eles nos apelidaram assim (Amigos da Maloca). Não forçávamos a barra. Queríamos que se sentissem acolhidos por nossa amizade. 

Estávamos ali para ouvir suas histórias, compartilhar as nossas, ajudar quem quisesse ser ajudado: sem imposições, sem diferenças, respeitando as escolhas de cada um. O sentido de igualdade e compaixão, era o que nos movia, e queríamos que soubessem que os respeitávamos.  

Foram mais de 25 ou 30 pessoas com quem estreitamos vínculos, e convivemos, e minimamente ajudamos, na medida do que conseguíamos, e antes que a Cracolândia fosse "deslocada para lá" pelo Poder Público. 

A história do Projeto é para uma conversa olho no olho, com quem tiver interesse; não quero expor aqui. O importante é deixar clara minha admiração por estas figuras e a escolha por este nome para o Blog. 

Uma singela homenagem à todos eles, e uma esperança de que eu sempre traga comigo o que ali aprendi.

Conheci grandes figuras: alguns muito cultos, outros com grande senso de humor, humanos com seus animais de estimação, outros, artistas incríveis, e a grande maioria deles, muito sensível à vida. 


"A rua te ensina a sentir a vida em detalhes", ouvi de um deles.

O Maltrapilho aqui tem a sorte de ter um teto, roupas, família, trabalho, comida; não me falta nada! Mas isso não é tudo!

É preciso "sentir a vida em detalhes". Ter a sensibilidade aflorada, ter gratidão pela vida e vivê-la com paixão e compaixão.

É preciso humanidade com os amigos humanos, e amor  aos de quatro patas e pelos, ou duas patas e penas. 

É preciso ser um maltrapilho existencial: que não tem a arrogância de se achar melhor que ninguém, que não carrega a pretensão de conquistar o mundo, que ama e valoriza as coisas mais simples da vida, as pequenas conquistas, e que sempre encontra espaço para acolher, dividir, ensinar e amar.



É assim que eu penso, e é assim que tento conduzir os meus dias debaixo do sol.

Eu, um Maltrapilho

Sandro
19 de fevereiro de 2019








  

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