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domingo, 22 de março de 2020

APRENDIZADOS E ESPERANÇA - LEGADOS DO CORONA VÍRUS


Já me via maduro, experiente, caminhando para um voo mais sereno, em céus menos conturbados, menos carregados de preocupações e, de repente, um cenário novo, incerto e apavorante, em escala mundial, me trouxe de volta à realidade e ao que sou de fato: pó da terra.  Sim ... pó da terra!

A ilusão da “experiência” e das realizações (ainda que modestas), me tiraram um pouco do senso da realidade; me fizeram ver pelas lentes das projeções um tanto equivocadas que tinha a meu respeito, me distanciando um pouco da minha essência, mas nunca me tirando o poder da reflexão e da lucidez.

O bom de ser atento a tudo, é que isso pode se converter em oportunidades, novas oportunidades. Oportunidade de voltar atrás, rever equívocos, e ser gente de novo, provando o melhor desta vida, sendo o melhor para vida de outros, e dando auxílio para que encontrem as mesmas possibilidades.

Não dá para ser o mesmo! É a única certeza que tenho hoje. A vida terá outro sentido. Isso falo como compromisso e não como sensação. Não é possível ser o mesmo depois desta experiência.

O aprendizado desses dias, tem invadido minha consciência como um tsunami, e está me ensinando muito: sobre medo, tolerância, solidariedade, responsabilidades, higienização, saúde, idade, maturidade, coragem, amigos, abraços, trabalho, filhos, igualdade, álcool gel, luvas, máscaras, resistência, disciplina, silêncio, política, ciência, medicina, dinheiro, choro, tristeza, amor ao próximo, futuro, unidade, família, natureza, alimentos, oportunidades, impossibilidades, tempo, dia, semana, mês, ano, gratidão, esperança, fé, reconstrução.

Minha mente não para, e estou deixando ela livre para que perceba tudo, e se manifeste. Me sinto ansioso e com esperança de retomar a normalidade dos meus dias, continuar meu caminho, e viver minha vocação, agora, com um novo e valioso compromisso: ser quem sou.

Pensando neste “novo eu”, fico na torcida para que o novo não perca o melhor do velho, que reconheço enquanto vivo cada segundo deste gigantesco dia que não acaba; já dura semanas, podendo durar meses .... ou mais.

Meu “espírito de porco”, já sente saudade de abraçar amigos e companheiros de trabalho, de rir, de me exercitar e levar bronca da minha instrutora, em sua árdua tarefa de me ajudar a ganhar força e sustentar minha coluna. Hilário!  

Me faz falta dar e receber carinho da minha família. Como isso é fundamental! É um santo remédio para qualquer dia cinzento!!!!!

Sinto vontade de sair com o carro, e mais uma vez observar a vida que passa lá fora. Sinto falta de ir ao mercado, ou ir às lojas “caroçar” qualquer bugiganga.

Sempre me refiz indo ao parque para caminhar sozinho, em silêncio, refletindo sobre a existência, e depois de uns 5km, tomando água e uma paleta de iogurte com amoras. Até o trânsito caótico seria melhor que a reclusão forçada por este inimigo tão perigoso e invisível.

A Faculdade estava por alguns meses. Finalmente retomaria minha jornada acadêmica. Consegui zerar as contas para isso, estava até economizando, mas ... terei que esperar mais um pouco. E tomara que este “pouco”, seja pouco mesmo.

Que saudade da minha vida social (rs). Nuca fui festeiro, baladeiro, viajante. Sempre preferi as coisas simples, o papo descontraído, acompanhado das gargalhadas e trocas de experiência, independente do assunto ou ambiente. É assim que consigo ser eu, estar mais próximo das pessoas, me conectar e concentrar nelas, e quem sabe, ser útil.

Acho que meu dom são os relacionamentos onde tento doar alguma esperança às pessoas, ouvindo e aconselhando, ou apenas ouvindo, ou não dando trela, para não alimentar o que possa lhes ser negativo.

Prefiro fazê-las rir de si mesmas ou de qualquer coisa, pois acredito que um caminho permeado de bom humor, tornará mais leve nossas fragilidades, dificuldades e impossibilidades, óbvio, desde que o contexto vivido permita.

Neste processo de reclusão, descobri que também amo pessoas que não têm o meu sangue, e as amo pelos mais diferentes motivos. Creio que cada uma dessas pessoas, a seu tempo, saberá que é amada por mim, e o porquê.

Agora que você “me lê”, quem sabe, mais uns dias e tenhamos a oportunidade de falar sobre isso?

E que seja acompanhado por um bom café, um bolo, pães de queijo, ou uma pizza (feita por mim) com um bom vinho, refrigerante, suco, mas, acima de tudo, sem reservas para cumprimentos, risadas, conversas e felicidade, pelo dom da vida.

Então, por enquanto, receba meu abraço virtual, meu carinho, e o desejo sincero de que você se encontre bem.

Deus nos preserve!

Sandro,
março de 2020
Quarentena pelo COVID-19
Suzano-SP, Brasil

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