Já me via maduro, experiente,
caminhando para um voo mais sereno, em céus menos conturbados, menos carregados
de preocupações e, de repente, um cenário novo, incerto e apavorante, em escala
mundial, me trouxe de volta à realidade e ao que sou de fato: pó da terra. Sim ... pó da terra!
A ilusão da “experiência” e das
realizações (ainda que modestas), me tiraram um pouco do senso da realidade; me
fizeram ver pelas lentes das projeções um tanto equivocadas que tinha a meu
respeito, me distanciando um pouco da minha essência, mas nunca me tirando o
poder da reflexão e da lucidez.
O bom de ser atento a tudo, é que
isso pode se converter em oportunidades, novas oportunidades. Oportunidade de
voltar atrás, rever equívocos, e ser gente de novo, provando o melhor desta
vida, sendo o melhor para vida de outros, e dando auxílio para que encontrem as
mesmas possibilidades.
Não dá para ser o mesmo! É a
única certeza que tenho hoje. A vida terá outro sentido. Isso falo como
compromisso e não como sensação. Não é possível ser o mesmo depois desta
experiência.
O aprendizado desses dias, tem invadido
minha consciência como um tsunami, e está me ensinando muito: sobre medo, tolerância,
solidariedade, responsabilidades, higienização, saúde, idade, maturidade,
coragem, amigos, abraços, trabalho, filhos, igualdade, álcool gel, luvas,
máscaras, resistência, disciplina, silêncio, política, ciência, medicina,
dinheiro, choro, tristeza, amor ao próximo, futuro, unidade, família, natureza,
alimentos, oportunidades, impossibilidades, tempo, dia, semana, mês, ano,
gratidão, esperança, fé, reconstrução.
Minha mente não para, e estou
deixando ela livre para que perceba tudo, e se manifeste. Me sinto ansioso e
com esperança de retomar a normalidade dos meus dias, continuar meu caminho, e
viver minha vocação, agora, com um novo e valioso compromisso: ser quem sou.
Pensando neste “novo eu”, fico na
torcida para que o novo não perca o melhor do velho, que reconheço enquanto
vivo cada segundo deste gigantesco dia que não acaba; já dura semanas, podendo
durar meses .... ou mais.
Meu “espírito de porco”, já sente
saudade de abraçar amigos e companheiros de trabalho, de rir, de me exercitar e
levar bronca da minha instrutora, em sua árdua tarefa de me ajudar a ganhar
força e sustentar minha coluna. Hilário!
Me faz falta dar e receber
carinho da minha família. Como isso é fundamental! É um santo remédio para qualquer
dia cinzento!!!!!
Sinto vontade de sair com o
carro, e mais uma vez observar a vida que passa lá fora. Sinto falta de ir ao
mercado, ou ir às lojas “caroçar” qualquer bugiganga.
Sempre me refiz indo ao parque
para caminhar sozinho, em silêncio, refletindo sobre a existência, e depois de
uns 5km, tomando água e uma paleta de iogurte com amoras. Até o trânsito caótico
seria melhor que a reclusão forçada por este inimigo tão perigoso e invisível.
A Faculdade estava por alguns
meses. Finalmente retomaria minha jornada acadêmica. Consegui zerar as contas
para isso, estava até economizando, mas ... terei que esperar mais um pouco. E
tomara que este “pouco”, seja pouco mesmo.

Acho que meu dom são os relacionamentos onde tento
doar alguma esperança às pessoas, ouvindo e aconselhando, ou apenas ouvindo, ou
não dando trela, para não alimentar o que possa lhes ser negativo.
Prefiro fazê-las rir de si mesmas ou de qualquer coisa, pois acredito que um caminho permeado de bom humor, tornará mais leve nossas fragilidades, dificuldades e impossibilidades, óbvio, desde que o contexto vivido permita.
Prefiro fazê-las rir de si mesmas ou de qualquer coisa, pois acredito que um caminho permeado de bom humor, tornará mais leve nossas fragilidades, dificuldades e impossibilidades, óbvio, desde que o contexto vivido permita.
Neste processo de reclusão, descobri que também amo pessoas que não têm o meu sangue, e as amo pelos
mais diferentes motivos. Creio que cada uma dessas pessoas, a seu tempo, saberá
que é amada por mim, e o porquê.
Agora que você “me lê”, quem sabe,
mais uns dias e tenhamos a oportunidade de falar sobre isso?
E que seja acompanhado por um bom
café, um bolo, pães de queijo, ou uma pizza (feita por mim) com um bom vinho,
refrigerante, suco, mas, acima de tudo, sem reservas para cumprimentos, risadas,
conversas e felicidade, pelo dom da vida.
Então, por enquanto, receba meu
abraço virtual, meu carinho, e o desejo sincero de que você se encontre bem.
Deus nos preserve!
Sandro ,
março de 2020
Quarentena pelo COVID-19
Quarentena pelo COVID-19
Suzano-SP, Brasil
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